terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Na parede, os relógios não mudam.
Sô Wilso quebra a regra
e a fazenda se entrega.
Na aurora nebulosa, galos e passarinhos cantam.
À mesma hora, o leite se derrama no curral
e o cheiro do café se repete no alpendre.
Na tardinha, a chuva atende ao pedido das siriemas e chove.
No canto, na janela e no poema.
Tudo tem o tempo de Minas.


regina vilarinhos - 2016

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A xícara quebrada e depois de remendada, não é colocada em uso.
Não faz parte mais da louça.
Quebrou, joga-se fora.
Fica a metáfora, uso como poeta.
O café bebo em silêncio e solidão.
Como o rio de Heráclito, eu não sou mais a mesma.
A correnteza que passa já provocou uma nova mulher. De que vale estar na vida sem crescer com ela e acreditar no grande final?
De tantos nascimentos, de tantos falecimentos, eu me renovei e ouço novas canções, amo novos amores, respiro um ar de crianças, refaço os laços de afeto.

Pra dançar mais e muito, como o sangue que bombeia e volta e vai de novo e volta. Nada em mim para, tudo é para sempre. O meu sorriso é a maior verdade.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Uma vez só te vi.
Mas foi muito tempo até te
reconhecer.
É longo o tempo da alma.
É longo o tempo do amor.
Pequena é a vida neste azul.

regina vilarinhos - 2015

OURO DE MINA

Ouro de Mina

Se os peixes morreram,
se o rio morreu,
se as plantas morreram,
se não tem larvas de insetos vivas,
se não tem nada sobre a terra atingida.
Onde vão cantar a saíra e o sabiá?
Daqui, onde posso contemplar a chuva
quando ela se aproxima,
também posso pedir que ela me leve,
me lave,
me deixe subir no vento,
ou cair sobre o rio.
Feito lágrima
de algum
sofrimento.

regina villarinhos - 2015

PITADA


De farinha,
na galinha,
na vizinha.
De azeite,
no leite,
no enfeite.
Na fruta,
na truta,
na luta.
No bolo,
na bala,
na fala.
De calor,
de flor,
de amor.
No feijão,
no pão,
no coração.
No café,
no cafuné,
no pé.
Num é?
regina vilarinhos - 2015
O barulho da alma inquieta não te deixa ouvir a vida.
A brisa também é boa. Não se pode ver tempestade sempre
Do amor a alcançar só o gosto e o nome.
Da lua a pedir só o raio.
De dentro da alma,
De fora da verdade
E em volta da tarde
Uns bons goles de vida
Saída pra quando vem
O moço rei desse campo.
Tem uma linha da mão traçada
Para sua felicidade.

regina vilarinhos - 2015

VIAGEM


Tenho céu a me cobrir
e tenho palavras com asas,
cada uma pousando onde querem.
Não posso ir junto
mas sinto-me céu,
cada vez que tua voz
nelas põe vida.
regina vilarinhos - 2015