tag:blogger.com,1999:blog-63297624165822783132024-03-19T08:31:49.027-03:00Regina VilarinhosSer feliz é ler o coração, antes que a vida vá embora!Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.comBlogger541125tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-11960434317373281302021-04-29T08:57:00.002-03:002021-04-29T08:57:50.380-03:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjprtusAxG9zRedy2h4a1tfhFh4RvAi7auW8RRKm9w2tk3DxXFXsYDHNHoIbgwy_LKjQM_Of3LfSo2QcCEhhq3Ot19GB160OXZL6Im7SSxrr5_PTWFdI4Pe2ZvvXm_E0RQGsgKA19WZ0ANo/s794/partir.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="355" data-original-width="794" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjprtusAxG9zRedy2h4a1tfhFh4RvAi7auW8RRKm9w2tk3DxXFXsYDHNHoIbgwy_LKjQM_Of3LfSo2QcCEhhq3Ot19GB160OXZL6Im7SSxrr5_PTWFdI4Pe2ZvvXm_E0RQGsgKA19WZ0ANo/s320/partir.jpg" width="320" /></a></div><br /> <p></p>Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-76445993910074962302020-10-21T13:31:00.002-03:002020-10-21T13:31:41.446-03:00Vozes na fazenda<p><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Estalou a madeira no chão. Pulei da cama. “Ai, que
sono!” Três e qualquer coisa da madrugada.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">“Fio, dromi.” “Oi? Quem falou aí?” De novo, tô ouvindo
coisas. De tanto rezar. Agora é isso. Rezar pra dormir e acordar ouvindo
coisas. “Tá cansado? Suncê deve ir pra cama. Para de zanzar.”</span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">Casa de fazenda é assim mesmo. Cada canto tem uma
marca e aqui tá cheio delas. Imagino essa mancha na parede da cozinha, como se
fez. Parece que espirrou doce de goiaba, quente. Posso ver o tacho borbulhando.
Parece sangue. De bicho ou de gente. Vai que na hora de cortar o pescoço da
galinha a Bá também se cortou. A cada ano, eu ouço coisas em lugares diferentes
da casa.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">Outro dia, Vó Conceição me deu um pedaço de papel
amarelado, cheio de rabiscos. Diz que era como ela tentava ensinar a Bá e seu
filho escrever. “Muito difícil. A mão deles era grossa da lida. A cabeça quente
dos gritos do seu avô. E o lombo do menino já guardava marca de dor.” “Mas o vô
deixava a senhora ensinar?” “Deixava. Era a forma de aliviar sua culpa.”</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">A Bá veio pra dentro de casa ainda novinha. O filho
nasceu depois de uns 4 anos. Ainda acho que ele é meu tio.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“Fio, tá doendo aí dentro de suncê? Fala, fio. Tem
medo di quê?” De cima do morro mais alto da fazenda, de novo minha cabeça
dizendo coisas. Ali, abandonado, cheio de capim, folhas caídas da
jabuticabeira. Sujo. Tem um vento que faz dança no meio do cimento quebrado.
Olho o terreiro de café daqui de cima e dói. Num sei onde, nem porquê. Desço o
morro devagar, tem um peso na minha perna. Tô ficando velho.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“Fio, suncê num vê essa corrente? Sinhô marrou hoje no
negro fujão. Vai ficar ali na chuva.” Olhei pro céu, vinha chuva pesada. Olhei
pro terreiro. Não vi ninguém, nada além de uma moita de folhas se juntando com
o vento. O sabiá me avisou que a chuva tava perto. Corri pra perto do
chiqueiro, dei a volta atrás do curral. Me protegi da pequena chuva que
começava.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“Sinhozinho, o galinheiro num tá resistindo desse
vento. Vou ter que pedir ajuda.” O Geraldo passou correndo atrás de mim,
gritando. “Vi o vento sim, mas você já num tinha pregado as madeiras outro dia?
Serviço ruim. Coloca os ovos nas cestas, não pode quebrar. E trata de colocar
as galinhas protegidas logo. Se vier essa chuva toda, já viu.” Ele baixou a
cabeça e correu pro que tinha que fazer. “Diacho de homem. Meu pai dizia que
ele é igual ao vô.”</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">“Que coisa esse menino me chamar de sinhozinho! Já
acabou a escravidão!”</span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">“Fio, a chuva passou. Nem veio na fortaleza que Iansã
manda. Suncê precisa se oiá no espeio, fio. Buscá lá dentro e sinti. Inté
parece que vai batê nos menino da fazenda.” “Meu Deus, tô ficando doido. Num
posso nem olhar uma chuva pela janela que tá essa voz dentro da minha cabeça de
novo!”</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">Lá vai o Geraldo, agora atrás de juntar os galhos na
entrada da fazenda e no alpendre. A Tiana vai junto, parecem unha e carne.
Nunca vi dois irmãos tão grudados. Uma vez me disseram que eles iam embora pra
Três Rios e largar a fazenda pra trás. “Seu Dinho que se vire, homem ruim que
só.” Isso eu ouvi da boca da Bá, seus netos eram tudo o que tinha. Logo ela me
dizendo esses absurdos. “Deixe ir, Bá! Vão voltar pedindo desculpas e aí eu
mostro quem é ruim. Onde se já se viu tanta ingratidão!” Ficaram. A Bá acha que
é por causa dela, tá velha e não aguenta a viagem. Eu sei que ficaram por conta
da casa e mesa farta que dou. Inda pago salário.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“Suncê tá triste di novo, fio? Corre lá no terreiro,
fio. Preta veia tá lá te esperanu. Vai lá e leva um toquinho daqueles da
cozinha.” Eu senti até arrepio. Não tá frio! Acordei na cadeira da biblioteca,
deve ser começo da noite. “Essa janela aberta... e o vento de chuva de novo.”</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">A Bá começou a me chamar. “Seu Dinho! Seu Dinho! Vem
no terreiro!” “Já vou, Bá!” Que será isso? Corri da porta da cozinha de um
salto só. Ela tava caída, sozinha, me chamando e colocando a mão no peito. “Meu
Deus! Minha Bá!” Nem tempo de saber o que tinha acontecido eu tive. Logo, o
Geraldo veio com a irmã, com uma fúria nos olhos, me puxou pelo braço. “Que o
sinhô fez com a vó? Larga ela! Aposto que bateu nela!” “Nunca! que isso
Geraldo! A Bá é minha mãe preta! Ela me chamou e vim pra cá!”</span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“Fio, sua mãe preta tá indo embora. Dá paz pra ela.
Num grita não. Deixa minino falá.” Levantei e deixou os dois ficarem mais perto
dela. Tiana começou a chorar. “Vó! Me deixa não, vó!” Dei ordem aos outros que
se aproximaram de colocarem a Bá pra dentro da casa, mandei chamar o padre de
Três Rios correndo. O médico também.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“Sua Bá tem que falá com suncê, fio. Vai perto dela,
chama o Geraldo mais Tiana.” Essa voz que me deixa maluco me mandando fazer
coisas e eu obedecendo. Sentamos perto da cama dela e ela segurou a mão do
Geraldo.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“Meu menino, Geraldo, meu neto. Ocê e Tiana são meus
tesouro, deusde que seu pai e sua mãe partiram, no meio da noite, prometendo
voltar pra me buscar com os dois. Seu pai num guentava mais o Sinhô ralhando
com ele, fazendo mardade de branco cum preto. Fugiru. Mas ele sabia que era
mais que um preto da fazenda. Ele sabia que era fio do Sinhô e num podia ficar
aqui, senão matava ele.” Respirou fundo. Geraldo soltou sua mão e eu fiquei de
pé junto da janela.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">“Sabia que era meu tio!” “Meu pai era seu avô então,
né”.</span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">Eu senti por dentro tudo o que significava essa fala e
o que tinha que fazer. Sabia, mas era difícil. Mas a Bá continuava. “Sô Dinho, num
carece de fazer nada pra mim. Num carece de me dá nada. Dá pros meus menino.
Eles num sabe de nada dessa vida e só tem essa história dessa fazenda. Nunca
saíram pra nada. Tiana inda foi estudar.”</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">“Fio, suncê num pode corrê.”</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">Era tudo o que eu queria. Correr muito, sumir desse
lugar. Nunca gostei daqui, nunca quis essa fazenda.Único herdeiro. Minha mãe
morreu cedo, meu pai sumiu no mundo (meu vô deu dinheiro suficiente para ele
nunca mais aparecer). Não tenho um irmão, um filho, uma esposa. Aprendi com a
vida o que era ser fazendeiro. A riqueza de meu avô foi feita no braço e no
sangue de negros e negras. Não gostava. Mas também não fazia a mudança. Um caso
como esse era comum por aqui. Os barões do café tinham filhos com as negras da
casa grande. Mesmo depois da alforria, as que ficaram acabavam sendo abusadas
pelos donos e seus filhos.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“Carece de sair desse lugar de dor, de libertá o seu
peito, fio. Carece de sê justo. Os menino num tem didonde ir. A Bá vai parti e
eles fica sozinho. Pensa, fio.” Minha cabeça doía. Saímos todos do quarto. O
médico chegou. “Um dia ou dois. Ela tá fraca. Teve um enfarto.” Minha Bá.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">Dormi. Ou melhor, passei a noite. Mal amanheceu,
fiquei matutando na biblioteca. Chamei o Geraldo e a Tiana. “Vou atender o
pedido da Bá.” “Sinhozinho vai dividir a fazenda? Quero não sinhô! Num sei ser
fazendeiro. Num sei cuidar de coisas com gente da cidade.” “E eu? Eu num quero
ser sinhá. Quero ser Tiana.” “Não vou dividir, nem fazer ninguém virar sinhá.
Mas vocês dois precisam entender que eu tenho que fazer justiça, depois que meu
avô não deixou o pai de vocês ser o filho dele.” As palavras estavam saindo de
minha boca como se não fosse eu quem as dizia.</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“Não gosto daqui, não gosto de ser fazendeiro. Mas
preciso da renda que a fazenda me dá. Geraldo, você se torna o gerente de tudo,
eu te ensino e tem mais outros pra ensinar. Nas coisas da cidade, eu cuidarei.
Fico na casa da cidade que nós temos. Tiana, não precisa virar sinhá; vai
estudar, lá na cidade não faltam escola e faculdade e com a renda que você
terá, pode estudar tudo, até Medicina, cuidar de gente, como você sempre dizia.
Vocês dois se tornam herdeiros, eu vejo no cartório o que precisa ser feito.”
Meu medo de não concordarem passou rapidinho. “Sinhô, eu aceito com a condição
de que eu não preciso sair daqui. E Tiana vai estudar, mas tem que ter alguém
pra tomar conta dela.” “Eu sei me cuidar! E vou estudar e virar uma médica que
vai atender o nosso povo aqui todo, inclusive os que moram no quilombo!”</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">“Fio, só farta suncê descê do seu orguio e pedi
descurpa, modi tudo que ficô pra trais. O passado suncê num muda, mais ocê podi
fazê diferenti parti de agora, num é?”</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">Vozes, em todos os caminhos. Sempre me dizendo o que
fazer. Vou até o túmulo da Bá. Conseguimos que seu corpo ficasse no cemitério
da cidade, afinal ela foi ama de leite de muito filho de sinhô por aqui. Esse
véu cinza parece querer aumentar minha angústia com tudo isso. Já se vão 6
meses e essas vozes não me deixam. Levo uma vela, levo um charuto e um toco de
madeira, foi assim que ouvi. Ninguém por perto para me encher de perguntas.
Acendo a vela e me sento no toco de madeira. um cansaço se faz em minhas
costas. Logo, me sinto em outro lugar, uma luz bem fraquinha me ilumina e chega
um escravo de meu avô, seu Benedito. </span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“É fio, eu memo. Tô aqui e falo com suncê sempre. Vai
fio, chora, livra seu peito. O veio só vai ficá aqui perto di ocê. Quando fio
chorá tudo, leva embora seu charuto e deixa lá na portêra da fazenda. Vou te
visitá inda mais veiz. Deus te abençoa.”</span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-size: 12pt;">“Fio, se suncê precisar </span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">É só pensar na Vovó </span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">Que ela vem te ajudá </span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">Pensa numa estrada longa, zifio </span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">Lá no seu jacutá </span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">E numa casinha branca, zifio </span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">Que a vovó tá lá </span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">Sentada num banquinho tosco, zifio </span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">Com seu rosário na mão </span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">Pensa na Vovó Maria Redonda </span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"><span class="tm61"><span style="font-size: 12.0pt;">Fazendo Oração.”</span></span></p>
<p class="normal" style="text-align: justify;"> regina vilarinhos - 2020 </p><p class="normal" style="text-align: justify;">Com o sopro de inspiração dada pelo Vovô que me faz companhia.</p><p class="normal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-43093698837553486472020-08-31T17:14:00.003-03:002020-08-31T17:14:52.527-03:00<p> <span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Partidas</span></p><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Mil pessoas estão à sua frente! E somem todas elas, entre o nascer e o por do sol. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Você disse que ia tomar café na casa da sua tia semana que vem. Não vai mais. Seu amigo marcou um chope com os 10 melhores dos últimos 10 anos. Não vão mais. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Tinha uma formatura semana que vem, daquela mina linda e que fez a facul com o FIES. Não tem mais formatura. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">E o almoço de 90 anos da vovó, na casa dela em Passa Quatro? Não tem almoço, será uma homenagem virtual porque o filho mais velho, o Maurício, também já partiu. Falei para ele para não ir à praia no Rio. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Foi. Pegou. Internou. Morreu.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Esquece o resto do mundo e pense só no Brasil. Mil partidas, todos os dias. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Imagine que 1000 pessoas estão à sua frente numa fila para morrer e você torce para demorar a chegar sua vez. Você pensa: tô nova, cheia de saúde e muito a fazer nesse país. Não tem porque Deus me levar agora!</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Mil pessoas estão à sua frente num embarque e seu check in demora! Você reclama, chama o gerente, faz barraco. Afinal, você pagou essa passagem e chegou cedo para fazer tudo certinho. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Mil amores da vida de outros 3 mil e tantos. É coração de mais para Aruanda dar conta, todos os dias. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Todos os dias. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Partir é verbo cheio de complementos ou sem eles: transitivo direto, transitivo indireto, transitivo direto e indireto, intransitivo e pronominal. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Partir é verbo cheio de gente! CHEIO DE GENTE! </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Indo, sempre indo.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Todos os dias, mil despedidas à distância.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;"><br /></div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">2 de agosto de 2020</div></div>Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-64561007911716197152020-08-31T17:13:00.002-03:002020-08-31T17:13:20.333-03:00<p> <span style="background-color: white; color: #050505; font-family: inherit; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">As pessoas perderam a sensatez e se transformaram em personagens tontos, que vagam no espelho, nas ruas e numa tela de um aparelho qualquer. Mas o que é ser sensato? Quem é sensato?</span></p><div class="kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Visto minhas roupas mais antigas na busca do meu cheiro em cada fibra de tecido. Acordar, café, ônibus, trabalho, almoço, casa da mãe, gatos e cachorra, plantas, poemas, buscas e respostas para tudo, faz pensar que o controle da nossa situação é todo nosso.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Tolice imaginar que exista um padrão para o nascer, viver, amar e morrer. Não tem!</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Ninguém é o outro e todos estão tentando ser tudo ao mesmo tempo. </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">É preciso guardar a lembrança do abraço e do sorrir juntos, deitados na rede ou na relva, vendo a lua nascer, e não a foto mais curtida e o sorriso perfeito, postados com os filtros da mentira.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">regina vilarinhos - 2014/2016</div></div>Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-42547949699798303312020-08-31T17:11:00.004-03:002020-08-31T17:11:43.985-03:00<p> </p><div class="kvgmc6g5 cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Este tempo que é um tempo</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">outro,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">feito de silêncios entre a manhã</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">e o canto da coruja.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Sobras, rascunhos, ruínas e</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">lascas de madeira,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">tudo o que se pode ser</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">outra </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">coisa.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Queimando no fogão à lenha,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">na moldura dessa janela.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">na parte de cada linha.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Outrem</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">era uma canção</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">da fuga,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">do soneto, em forma,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">com as garrafas de leite,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">esperando na porta de casa.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">No banco de madeira</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">eu espero,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">suspiro,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">aqueço, </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">faço a história se acumular</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">na fumaça que sobe,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">nas carnes defumando.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">agosto de 2020</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">A vida me pede poesia.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">O cheiro da horta</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">noutra</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">terra, </div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">serra,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">montanha.</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Sombras, folhas,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">visão.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">Eu quero um campo,</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">uma casa</div><div dir="auto" style="font-family: inherit;">e tudo mais.</div></div><div class="o9v6fnle cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql ii04i59q" style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; margin: 0.5em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space: pre-wrap;"><div dir="auto" style="font-family: inherit;">2020</div></div>Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-5988971676578597592020-08-31T17:10:00.000-03:002020-08-31T17:10:18.498-03:00<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Um vislumbre e um poder. Uma ferramenta.</span></p><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Companhia maravilhosa que se faz no meio do quintal.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Doce que brilha na vitrine, salivo e dispara o coração.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">PA-LA-VRA. </div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Canção, poema, romance, manifesto, credencial, partitura, pinceladas no vento, batuque e caminho.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Clarão na alma e guia.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">E dela é feita a não palavra.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">O Nonada é a vida contemporânea. Esse deserto íntimo que teimamos em compartilhar.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">A essência do eu nas cinzas adormecidas.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">As coisas a serem feitas, perdidas no emaranhado de luz que brota na cabeça.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Deve ser porque persisto no caminho de crer na palavra</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">e na forma que ela toma, quando vira ação.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Nada é mais difícil do ser/tornar-se resistência, hoje.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Em frente ao espelho, de frente pro sol, mirando no olho do filho. Percorrer o infinito caminho da modernidade líquida.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">E não esqueço jamais do Bourbon que me fez companhia.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Vive-se e goza-se. Perdoe-se e puna.</div><div style="background-color: white; color: #050505; font-family: "Segoe UI Historic", "Segoe UI", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">2020 - janeiro.</div></blockquote>Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-29011437511682444232020-08-31T16:35:00.003-03:002020-08-31T16:35:50.001-03:00<p> </p><p class="normal tm8"><span class="tm61">Terra batida. Cachorro e cavalo no pasto. Casa branca na estrada. Sol quente, vento quente. Podia voltar a fazer frio. Ai! doía o pé e uma perna. Doía a fome. O
cachorro pulava sem parar diante de um buraco. Tatu. </span></p>
<p class="normal tm8"><span class="tm61">Árvore, sombra, uma goiaba. Senta. </span></p>
<p class="normal tm8"><span class="tm61">Parou um carro. “Vai pra roça?” - Sim, tô quase lá. “Vem. Te deixo. Sobe.” Sacudiu mais 2 quilômetros. – Brigada, Zé.
Bateu na carroceria. Zé foi, com sua Ford, virou na curva e sumiu. Ali, no milharal, tudo some. Cadê cachorro? Cadê enxada? </span></p>
<p class="normal tm8"><span class="tm61">Milho, milho, milho. </span></p>
<p class="normal tm8"><span class="tm61">Todo seco, nada vinga nessa terra seca. Meu Deus! Só isso. Ninguém tinha milho bom. Juca, D. Edna, Tavinho, até a rocinha do alemão tava seca. Coitado, saiu
da Europa pra passar fome no meio de Minas.</span></p>
<p class="Pr__formata__oHTML tm8"><span class="tm61"> </span></p>
<p class="Pr__formata__oHTML tm8"><span class="tm61">Vi um dia o alemão correndo no meio do milharal. “Was für eine Scheiße!” Devia ta achando tudo uma merda só.</span></p>
<p class="Pr__formata__oHTML tm8"><span class="tm61">O milho, ele tem uma coisa com água. Deve ter plantado muito tarde, o alemão não sabia de nada.</span></p>
<p class="Pr__formata__oHTML tm8"><span class="tm61">O Tavinho inda fez certo. Mas largou as coisas de lado. Coração partido estraga o homem e a lavoura.</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Milho e sol quente, desde pequena eu vejo isso.</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Eu tinha medo do pai, quando chegava suado, vindo do milharal e resmungando com a seca. “Só palha! Só sol!”, eu sentia a raiva no meio dos dentes dele. Mãe
nem reagia. Um banco seco, uma caneca torta, um naco de bolo (de milho). “Dêxa seu pai, menina.”</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Nada de correr na cozinha. Essa hora era de correr com as galinhas, secas, magras, no canto de uma terra seca.</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Conta a vó que pai era só isso. Sempre correndo o milharal e secando o suor. </span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61"> </span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">O alemão chegou uns dois anos. Eita que é bonito! Eu nunca vi igual assim. Mãe diz que é moço de família, “Nem tem olho para menina como
tu”. “Menina, mãe? Tenho 28!”</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61"> </span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Uns 7 anos que eu tinha. Peguei um trem no corpo que mãe achou que ia morrer. Ninguém sabia; só tinha dor, vontade de chorar e não comia. Vó disse
que eu tinha aguado. </span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Pai não me via, não entrava no quarto. Mãe chorava na cozinha e no terreiro, fazendo as galinhas correrem e o arroz queimar.</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Veio padre de perto e de longe. Veio pastor, e veio a benzedeira. Dona Vera, ela que me rezou dia e noite durante uma semana.</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Uma tarde, Seu Geraldo parou pro café e tirou das tranqueiras um chocolate. Mãe pegou e comi escondido.</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Deus, dizem, é milagreiro. E tô aqui, no meio dessa roça. Nesse sol. O chocolate salva e hoje eu queria um, salvar essa raiva.</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61"> </span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">28 anos. Sei ler e fazer comida. Escrever para que? Sei plantar o milho, é o que tem. Ando uns caminhos todos os dias. Só. Outro dia, o pai disse que a gente tinha que
ir pegar documento no banco, na cidade. Foi a última vez que fui lá, tem quase 5 mês. </span></p>
<p class="Normal tm8"><strong><span class="tm9"></span></strong><span class="tm61">Depois do banco, pedi pro pai pra cortar o cabelo. Tava igual o milho. Seco, amarelo. Tava a igual palha. Pai deixou. A moça pediu
pra esperar, olhava para outra moça e ria. Ria, ria. As duas. Duas moças secas. Arranquei o pano do pescoço e levantei. </span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Em casa, mãe pegou a tesoura e cortou. Diacho de gente que ria. Sol quente e duas magrelas rindo.</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61"> </span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">O Zé trouxe o caminhão e parou pertinho de casa. Tava carregando a mudança do alemão. Ia embora, vendeu terra. Olhei a carroceria. Tinha pouca coisa. Mas
tinha livro. Eu sei o que é livro, lá na escola tinha e a professora deixava pegar. Sei porque consegui ler duas capas que tavam junto com outros que não consegui ler o que eram. Deve ser na língua
dele. “Tenho que levar tudo isso inté na cidade, que lá vai colocar em outro caminhão. Deu 100 conto pra mim. Tá bom.” </span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">“Zé, me deixa ficar com esses aqui?” “Tá doida, Juventina? O alemão briga comigo.” “Ele nem vai sentir falta, Zé. Cê
diz que caiu na estrada...”</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Um de capa amarela, capa velha. “Drá-cu-la”. O outro eu só vi que tava escrito ”Guia de Minas” e tinha muita fotografia. E foi o Zé com
o caminhão. Eu fiquei mexendo no livro de fotos e pai veio me tomar. Puxei pro lado. “Tá na hora de ajudá tua mãe. Depois ocê vê esse trem.”</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61"> </span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">Sol e milho, duas cestas cheias e a gente limpando outra. A mãe de boca seca e de olho em nada. Peguei água. Ela bebeu. Resmungou. Caiu o cesto no chão, espalhando
o milho.</span></p>
<p class="Normal tm8"><span class="tm61">“Disgrama de cesta. Disgrama de vida. Disgrama de milho.”</span></p><p class="Normal tm8"><span class="tm61"><br /></span></p><p class="Normal tm8"><span class="tm61">agosto 2020</span></p>Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-65293544444204337532019-04-03T14:36:00.001-03:002019-04-03T14:36:32.321-03:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">A minha cidade tem um nome que veio do rio e a gente não pode nem nadar nele. Ela tem vila com nome de santo e bairros com nomes de frutas, mas não tem mais tradição religiosa e nem de dia de colheita. Minha cidade já foi inundada de poetas e artistas, nos bares e ruas, nas galerias e salões. Hoje, vive uma angústia aflita, a rua vazia de palhaços, o verso escondido em corações. A cidade dos meus dias, tem um jeito diferente, não é de mar nem de montanha. É uma cidade do interior, da volta no tempo. Que em meu caminhar faz um encontro diferente todos os dias, entre o sol, o concreto e a árvore da vida.</span></div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-14700183961570161462018-04-11T10:49:00.001-03:002018-04-11T10:49:17.322-03:00Pecado é permitir o pecado<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
Pecado é permitir o pecado.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Quando era menina, aprendi que era pecado jogar comida fora, que era pecado não amar o próximo, era pecado roubar, e tantos outros pecados que aprendemos. A gula, a luxúria, a avareza, a inveja... A palavra pecado sempre carregada na consciência enquanto ia crescendo. O erro se afirmando em meu subconsciente, que não sabia o que era O certo. Quando aprendi outras ideias, não importa a idade, que me trouxeram outra visão dos valores e as tantas sign<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;">ificâncias dentro deles, pude ir manejando meu vocabulário e consegui enxergar formas mais leves, não desfazendo o aprendizado anterior. Então, o PECADO passou a ser no meu entendimento, quebra de energia.<br />Explico: a gula é pecado e é pecado desperdiçar comida. Então, o alimento, que é energia vital, é força, é amor, é prazer de saborear, é necessário para os outros tantos ciclos que vivo, não pode ter sua ENERGIA quebrada, porque ela não se transforma no que deve se transformar (a força etc etc). Claro, que ainda entra o debate sobre veganismo e outras questões, mas não quero e nem tenho conhecimento (ainda) para me aprofundar nele. Não posso prosperar em outros sentidos de minha vida, se quebro a energia primordial, do alimento. E assim, vou colocando essa ideia em outros conceitos: a avareza é energia errada com o meu dinheiro, meu suor, trabalho, aprendizado; o desperdício também. A preguiça, idem. A luxúria, por sua vez, quebra a força da vida, do prazer amoroso, do sexo realizador, que não é apenas procriar, mas que é pró criatividade, inspiração.<br />Permito ou não, consciente ou não, que essas energias sigam seus ciclos. Preciso aprender a controlar e fazer de cada uma um bem para mim mesma. Abrir os caminhos de aprender é tirar o pecado da preguiça de meu caminho.</span></div>
</div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-862371049094930342018-02-01T10:25:00.003-02:002018-02-20T08:39:38.524-03:00NOVELÃO<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em;">
Tenho os caminhos das mãos da vida prontos</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em;">
a serem deitados sobre teu corpo.<br />
Quem foi o dono do tempo<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />que fingiu não tê-los?<br />Tenho os beijos de tantos lábios guardados<br />para despejá-los todos em tua boca.<br />Quem é o dono do amor que diz o quando e onde poderão ser dados?<br />Guarda hoje uma doce lembrança<br />e deixe a roda do mundo continuar.<br />Minha cena e a tua estão escritas nos papiros sagrados<br />e a última cortina ainda não caiu sobre este palco.<br />Tenho mais de mim além do roteiro,<br />tens mais de ti depois do diretor.<br />Um patrocinador? Um creme para mãos?<br />Ou uma venda casada do cruzeiro ao som de Robertão?<br />Ninguém vai lembrar de nós,<br />nem os tabus, nem as beatas em casa rezando seus terços.<br />Ave, crendeuspai, logo em seguida vem o grande irmão que te vigia!</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #666666; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em;">
regina vilarinhos - 31/01/2014</div>
</div>
</div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-66556851188837969172018-01-29T11:18:00.001-02:002018-01-29T11:18:49.136-02:00Da solidão de muitos dias<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Existe uma solidão dentro de cada um de nós, escondida. Até que uma palavra, ou um silêncio, e ela se mostra. Imensa, na sua força. Pequena, no seu quarto. E cheia de insônias, de fotografias, de doces e contos de fadas.</span></div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-44123693838594869082018-01-10T08:52:00.003-02:002018-01-10T08:52:50.043-02:00Oxum<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Ela me olhou, de olhar de mãe, </span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">fez da minha mão buquê de flores.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Ela me deu a mão, pôs em mim proteção.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Das águas da cachoeira, lavou meu rosto.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">E o medo correu junto com o rio.</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br />Brota luz em meus caminhos,<br />toma o vento e a tempestade.</span></div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-36904462358002775952018-01-10T08:52:00.001-02:002018-01-10T08:52:08.751-02:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">A palavra não pode naufragar. Dela preciso para me entender, para entender os outros e para que eu me sinta pertencida no mundo. Falada, escrita, traduzida em sinais, em prosa ou em verso. Dela me alimento, me junto, me despedaço, mas com ela eu ando. Fazer dela - palavra - uma ferramenta de luta e união, não de transtorno, indefinições. Uso a palavra para entender, não para desestimular.</span></div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-92226881345155548142017-12-06T08:56:00.000-02:002018-01-09T09:03:13.655-02:00Sobre apego e prisão<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
Meu território é minha casa. Não aquela construída em cimento, telhado, janelas, cozinha e onde posso abrigar meus afetos.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
É a casa que mora dentro de mim, que abriga meus sonhos, meus sabores, que eu levo para qualquer lugar. Nova ou velha, sempre mirando o horizonte.<br />
Abro meus braços para este território se demarcar com outros braços! Fecho as janelas quando vem a tempestade e posso abri-las também para que o vento desmanche o cabelo e desembarace os nó<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;">s!<br />Só põe o pé nesta casa e penetra este território os que se colocam em sintonia.<br />E são livres. Não existe prisão na minha morada!<br />Será que não dá certo?</span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;">2016</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7DBuBqf17WHEXXittdxCVR32r9RCVZOfEucQ2HBYtl7xrSiEDmWUEHKSf7BDEdyFVr9OavUsoDAFm-8pILCS-TJ2equqhp6_8ZUhFu9XeC9DV3ZI09ngISPt-ixVtu6QcdxTFDUAS9zmT/s1600/266766_1441868862526_7170274_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1054" data-original-width="607" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7DBuBqf17WHEXXittdxCVR32r9RCVZOfEucQ2HBYtl7xrSiEDmWUEHKSf7BDEdyFVr9OavUsoDAFm-8pILCS-TJ2equqhp6_8ZUhFu9XeC9DV3ZI09ngISPt-ixVtu6QcdxTFDUAS9zmT/s320/266766_1441868862526_7170274_o.jpg" width="184" /></a></div>
</div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-1974681967874298992017-11-21T11:40:00.000-02:002017-11-21T11:40:04.590-02:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
A madrugada teve um silêncio absurdo hoje.<br />Talvez na esquina tivesse um gato, ou um despacho.<br />Talvez no hospital, o ruído sombrio do oxigênio.<br />Sei que no prédio ao lado, o elevador cumpria seu destino.</div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px;">
Aqui, tudo quieto.<br />Nem cães, nem grilos.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Um estrondoso vulcão, porém, expeliu suas lavas.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
A alma queimava,<br />como o mato seco<br />de inverno,<br />no meio do Pantanal.<br />Um desses dias.<br />Muitas dessas madrugadas.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
regina vilarinhos - 2017</div>
</div>
</div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-62097206847064400022017-11-18T08:35:00.001-02:002017-11-18T08:35:09.682-02:00ESPERA<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
A única coisa que tenho é a espera.<br />
<br />
Por uma notícia estrondosamente boa.<br />
Por um dia estupidamente lindo.<br />
Pelo vento amorosamente refrescante.<br />
Pela flor maravilhosamente colorida.<br />
Pelo caminho tranquilamente firme.<br />
Pelas músicas virtuosamente cantadas.<br />
Por um beijo escandalosamente molhado.<br />
Pelo abraço infinitamente caloroso.<br />
Pelo encontro unicamente libertador.<br />
Pela alma, mansamente, livre.<br />
Pelo amor encantadoramente acolhedor.<br />
<br />
A única coisa que tenho é a espera,<br />
o único bem que tenho é a minha paz.<br />
<br />
regina vilarinhos - 2016</div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-35827576537866350122017-11-16T09:36:00.000-02:002017-11-16T09:36:35.583-02:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
"Estava lá, junto da janela, olhando a vida.<br />
O mundo que conseguiria ver pelo resto de sua vida.<br />
A vida que passaria a viver do lado de cá era a sala, o quarto, uma cozinha empoeirada e um cachorro a latir todas as tardes, pedindo comida.<br />
Uns poucos livros, umas poucas roupas e a xícara de chá. Nada nem ninguém além.<br />
Ainda tinha o telefone e podia pagar a conta. <span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />Nunca lhe faltariam remédios, comida e garotos de programa. Alguns pesadelos seriam esquecidos."</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px;">
O personagem vive.</div>
</div>
</div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-59306641841856369872017-11-16T09:35:00.002-02:002017-11-16T09:35:56.046-02:00PÉ DE LIVRO<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjW49uA2_Z-aTmdl2R9iHLH523rYU42lE83IwLu5EITVre6apXjH1fGMbHAFMBJq1bK9fWA2O2i8QuVGWn-gm64mXZVDaEa5gOy1DZ64PxN1JWQsZUaZ8R0teUKz3_VSWoeMbL6xZSXhYrp/s1600/23519011_10204215187735692_2637373644658239275_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="956" data-original-width="960" height="318" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjW49uA2_Z-aTmdl2R9iHLH523rYU42lE83IwLu5EITVre6apXjH1fGMbHAFMBJq1bK9fWA2O2i8QuVGWn-gm64mXZVDaEa5gOy1DZ64PxN1JWQsZUaZ8R0teUKz3_VSWoeMbL6xZSXhYrp/s320/23519011_10204215187735692_2637373644658239275_n.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Tem num quintal mágico,</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">plantado e regado de poesia.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Crianças e erês por ali passam, dia e noite,</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br />noite e dia.<br />Na roda de prosa boa,<br />livros-frutos pendurados<br />são amorosamente<br />degustados. </span></div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-70561698603012989692017-09-18T13:02:00.003-03:002017-09-18T13:02:47.091-03:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">A vida que cobre o asfalto</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">transbordando pelo becos</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">os sonhos que não envelhecem.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Dos rios de junho a janeiros,</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">das fileiras iluminadas </span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br />dos fachos de luzes<br />brotando dos olhos, dos sorrisos.<br />Vai vida!<br />Tropicaliamente fazendo dessa<br />história tua<br />a história minha e<br />de todos! </span><br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Amém<br />para a luta!</span></div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-65158763440627303412017-09-18T13:02:00.000-03:002017-09-18T13:02:05.634-03:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 30px; font-weight: bold; text-align: center;">Berçário. </span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 30px; font-weight: bold; text-align: center;">Onde os versos sonham, depois de nascerem.</span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 30px; font-weight: bold; text-align: center;">Poema. </span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 30px; font-weight: bold; text-align: center;">Onde os versos crescem, depois que me alimentam.</span><br style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 30px; font-weight: bold; margin-bottom: 0px; margin-top: 0px; text-align: center;" /></div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-1915638641265688352017-09-18T13:00:00.002-03:002017-09-18T13:00:09.747-03:00Parque das Ruínas<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
Quero abrir minhas ruínas.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Deixar o tempo de cada uma dizer o que foi ali, como eu usei aquilo.<br />Fazer o caminho de cada uma, expondo seu (des)valor.<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />Traçar a linha de tempo, o perfil, suas configurações.<br />À elas, render homenagens. </span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;">Arrastar as correntes de todo o passado que possuem.</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px;">
Depois de tudo isso,<br />escurecer o dia em que resolvi<br />destruí-las.</div>
</div>
</div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-52581093215610810642017-09-18T12:56:00.001-03:002017-09-18T12:56:55.642-03:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Preciso urgente de um arquiteto,</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">que projete um abrigo preciso para amor verdadeiro.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Preciso de um engenheiro,</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">que calcule o tempo preciso para viver esse amor.</span><br style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Preciso de um professor,</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br />que aprove o ser preciso para recebê-lo.<br />Preciso de uma tarde...<br />que abrigue, viva e aprove o meu amor<br />até a lua nascer.</span></div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-71054885329425534312017-09-04T17:12:00.001-03:002017-09-04T17:12:19.165-03:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
Sorrisos encantados<br />pequeninos, acanhados,<br />deixados na caixa de correios,<br />vieram de longe,<br />cabem em qualquer coração,<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />aguardam adoção.<br />Bocas e lábios interessados<br />favor deixar contato<br />para posterior<br />avaliação.</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px;">
regina vilarinhos - 2014</div>
</div>
</div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-75245403569673430422017-09-03T09:11:00.002-03:002017-09-03T09:11:20.990-03:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Lá íamos nós, domingo de noite. Dentro, o banco parecia já reservado. De joelhos, cada um com a cabeça mais baixa que o outro. Para falar a verdade, somente uma das meninas rezava de verdade.<br />
Levantar-se no dia seguinte, esperar o chuveiro esquentar... valia esticar o domingo mais que tudo antes da segunda. Ir à missa fazia parte do dia longo.<br />
<br />
Fotografias de novo, sol nos olhos de novo, férias de novo. Jornal fora do lugar, quem foi? Hora comprida essa da manhã, a esperar os bois no curral, colocar sela nos cavalos. Quatro crianças quebravam os coquinhos. Sua vez, de novo, de tomar conta deles. Vai.<br />
Era hora da prosa de fogão, os mata-fomes bem quentinhos, doce no tacho. Os ruídos dos morcegos no forro logo depois do almoço e ficávamos todos bem na cama.<br />
<br />
Parte II de mais uma coisa que te lembre teu livro de memórias</div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6329762416582278313.post-76982209066052427602017-09-03T09:08:00.000-03:002017-09-03T09:08:21.180-03:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Ouça: na cena seguinte existe nós de novo. A trilha sonora é aquela mesma que fiz há tantos anos atrás. A foto foi colada no álbum de família, e permanece rosada, permanece guardiã. Dizem que nunca mais nos reunimos, mas é mentira. Todos os domingos estávamos lá, com macarrão e frango assado, refrigerante gelado e a sobremesa de pudim, tal como fantoches preparados pelo tempo.<br />
Suavemente, a mãe ia nos servindo, e tudo ficava bem.<br />
Valemos o monte de figurinhas do álbum que foi lançado no fogo.<br />
Aperte o botão certo e tua TV ficará colorida de novo.<br />
Sua persiana verde, sua janela de vidro, suas horas no berço dormindo<br />
e sua alergia de abelhas não causam mais náuseas.<br />
Respire, afunde, deite, durma, acorde, estude, coma...<br />
<br />
Parte I de qualquer coisa que te lembre teu livro de memórias.</div>
Regina Vilarinhoshttp://www.blogger.com/profile/13249367873562504791noreply@blogger.com0