quinta-feira, 29 de maio de 2008

Pedido

Fica comigo.
Há tempos que a vida não brinca assim,
de me fazer menina e bandida de mim.

Fico contigo.
cuidarei das orquídeas, das rosas e do jasmim,
enfeitando o centro do teu peito.

Fica comigo.
Convidarei os planetas, as luas, os anéis e os sóis,
e uma nova galáxia, a maior delas, surgirá de teus olhos.

Fica comigo.
Te presentearei com a aurora, ou com o pôr-do-sol,
ou com a brisa da tarde.
Vigiarei o mar e as ondas que não têm onde quebrar.

No mesmo cálice, o vinho bebamos.
No mesmo sangue, misturados
Ficamos.

regina vilarinhos

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Sobre o outono e o dia das mães

“Abra os olhos! As ‘patas-de-vaca’ estão maravilhosamente floridas, espalhadas pela cidade. Parecem-se com orquídeas. Orquídeas de pobre: abundantes e grátis. E veja os ipês brancos, delicadíssimos, antes que sua floração efêmera acabe. Também estão florescendo as quaresmeiras.” (Rubem Alves, Correio Popular, 2001)


Nestes dias de outono, quando finalmente faz frio de outono e manhãs de outono, numa visita ao site do escritor Rubens Alves (www.rubemsalves.com.br), caiu sobre meu teclado o trecho acima. Como na música de Milton, “Certas Canções”, às vezes eu me pergunto “como não foi eu quem fiz.”

Em minhas caminhadas, essas árvores fazem parte da paisagem. Espalhadas em nossa cidade, pelas ruas do Tangerinal, pelas transversais das Ruas 31 e 33, pelo Aterrado, por Niterói, as patas-de-vaca são brancas, rosas e lilases. Bem provável de relacionar todos os bairros da cidade. Eu não sabia o nome da flor e por muito tempo fiquei pensando como poderiam dar orquídeas em árvores assim. Quem me ensinou o nome foi minha mãe.
Os ipês, bem mais conhecidos, floridos junto com as quaresmeiras, são fáceis de se ver no bosque do Laranjal, aquele que fica na subida para o Monte Castelo. As paineiras com sua floração rósea parecem fazer pose para a foto.
Recentemente, descobri um ipê branco, sozinho numa rua escondida. Tive o prazer de contar à minha mãe sobre ele. Ainda não consegui levá-la para vê-lo. Fica na Visconde de Taunay, aquela subindo da São João para o colégio, na esquina com a Toledo Piza. Na calçada de uma casa simples, comprido, fino, e que floresce raramente. Ou de floração efêmera, como disse nosso cronista. Não sei se existe outro na cidade. Merece registro e foto.

Minhas memórias são da cidade, em torno dela, mesmo quando viajando em outras cidades, é nela que penso, é para ela que volto. Não sei se ela me aceitou como filha. Talvez eu a tenha adotado como mãe. As memórias de minha mãe, a Ignez, são divididas entre a fazenda, a roça, o interior e as cidades que viveu. Santos Dumont, Rio de Janeiro, Volta Redonda, Porto Alegre, Volta Redonda. Vila Velha, Volta Redonda.

As manhãs de outono me fazem lembrar de um tempo que minha mãe sentava ao sol, no quintal, catando feijão ou arroz, e eu ficava ao seu redor, para aproveitar do calor dos dois. Às vezes, fazia tricô ou crochê. No meio das flores de outono, penso no presente que posso compartilhar com minha filha, para não sofrer com o futuro que ela venha a ter. Suas asas estão crescendo e em breve seu vôo será para longe.

Entre chaminés e asfalto, espero que meu ninho não se desmanche com o vento e a chuva. A cidade que é mãe precisa abrigar mais filhos. A filha de outra cidade ainda tem muito que trilhar. Necessário se faz conhecer cidadãos e histórias. Por isso, é muito bom dizer para minha mãe, a Ignez, que a amo. É muito bom dizer para a minha mãe, a cidade, que aprendi a amá-la. É maravilhoso ouvir de minha filha que ela também me ama. É muito bom sentir através de meus filhos, os poemas e as crônicas, o amor se espalhando.

regina vilarinhos - crônica publicada no "Diário do Vale", em maio de 2006.

Memória da Dor - O Dia online

Li hoje no online "O DIA" e achei muito bom isso!


"9/5/2008 01:04:00 Ciência prova: beijo de mãe cura dor de filho "

Carinhos em local dolorido diminuem chegada de impulsos elétricos do sofrimento no cérebro

Pâmela Oliveira

Rio - Com quase 2 anos de idade, a pequena Lívia Arydes arrisca passos cada vez mais rápidos. Entre uma brincadeira e outra, as quedas são inevitáveis. Nessas horas, a mãe da menina, Francilene Arydes, 37 anos, já sabe o que fazer: dá beijos no local do trauma para que a criança pare de chorar. O que Francilene não sabia é que a prática tem fundamento científico. Segundo o médico Ricardo Caponero, diretor do Instituto Simbidor, os beijos e carinhos da mãe no local dolorido diminuem a chegada de impulsos elétricos da dor no cérebro.

“O beijo da mãe não é sedativo, mas alivia a dor das crianças. Isso porque tanto as sensações boas quanto as ruins chegam no cérebro através dos mesmos nervos. Ou seja, quando a criança bate o joelho e a mãe dá um beijo ou faz carinho no local, dois estímulos diferentes estão chegando da mesma região ao cérebro: primeiro o de dor e logo depois o do carinho. Por isso, a dor é aliviada com o afago”, explica o médico do Hospital Israelita Albert Einstein.

PICADA DE ABELHA

O médico diz que o mecanismo é semelhante com o de alguém picado por abelha que coloca compressa de gelo para aliviar a dor. “Ou seja, a sensação térmica aliviaria a dor porque os impulsos elétricos provocados pelo gelo chegarão ao cérebro pelo mesmo nervo pelo qual passam os estímulos da dor.”

Caponero diz também que o beijo da mãe tem ainda um efeito placebo. Ou seja, quando a mãe diz à criança que vai dar um beijo e que a dor vai passar, a criança acredita nisso e essa confiança contribui para a diminuição da dor. “Sempre que Lívia cai, começa a chorar e fala ‘dodói, dodói’. Eu digo que vou dar beijinhos para passar a dor e ela pára de chorar”, diz Francilene. “Nunca pensei que pudesse ter alguma explicação científica para isso, mas sei que funciona”, conta a comerciante.

Caponero, que participou de um workshop sobre dor realizado pelo laboratório Wyeth, em São Paulo, quarta-feira, diz que a sensação de proteção também influencia. “Quando uma criança vai fazer um exame, por exemplo, fica mais calma com a presença da mãe ou do pai porque se sente mais protegida. Se vai sozinha, começa a sentir dor antes. A dor não é apenas um fenômeno mecânico e bioquímico do nervo. Ela tem conotação psicológica e social”.

A famosa ‘dor de cotovelo’ faz o corpo sofrer

Perder uma pessoa próxima, ter uma grande decepção ou descobrir que está sendo traído pode provocar dor física. Ou seja, a famosa dor de cotovelo dói no corpo, dizem especialistas .

“O nervo não recebe estímulos elétricos de dor, mas quem sente dor não é o nervo, é o cérebro. Ou seja, o sofrimento emocional causa dor”, afirma Caponero. “Até a postura da pessoa muda.”

Supervisor da Equipe de Controla da Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Irimar de Paula Posso garante que o corpo guarda a memória da dor. “Quando uma pessoa passa muito tempo com um sapato apertado e na semana seguinte coloca o mesmo calçado, não consegue continuar calçado por meia hora.Um estudo com torturados mostrou que o corpo guarda memória da dor quando há estímulos muito fortes. Encostaram fios elétricos sem eletricidade em pessoas que foram torturadas e elas tiveram a mesma sensação de choque da tortura”.