segunda-feira, 28 de abril de 2008

O ar que eu respiro

Eu quero fazer valer o ar que eu respiro.
Por isso vou ser sempre essa
que solta o ar dos pulmões, da garganta,
que sangra o próprio coração,
que não engole o choro,
que corre à frente de qualquer dano,
que acorda de ressaca da própria alegria,
que não finge o aperto do calo
e nem o amor pelo verso.

regina vilarinhos

Choro Bandido

Choro Bandido

Composição: Edu Lobo / Chico Buarque

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim

Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim
Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons.


Letra linda, ouça na voz de Cecília Leite em http://sintoniafina.uol.com.br/arquivo.php, tem que descer a brra de rolagem e linkar na música. Só coisas boas por lá.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

existe entre

entre mim e você existe um céu
existe um rio, existe um livro.

guardas-chuvas abertos como abraços.
placas de ruas e chinelos nos armários.
camisas sem botão, beatles, escapulários.
trecos amontoados, arcas cheias de pandora.

entre você e eu
existem lábios,
existe a doce sensação de beijo.

regina vilarinhos

Cafuné

Queria ir embora de mim
à pé,
sentar pertinho de ti,
com fé,
te dar um rio de rir,
até,
cair para trás
e dormir.
Inté.

regina vilarinhos

Clarice

Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus."
Clarice Lispector

quinta-feira, 24 de abril de 2008

sonhos e viagens

sonhei contigo hoje.
parti correndo do sonho
e fui até a estação.

você já tinha partido.

e eu,
ainda sonhando,
corro em sua direção.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Viagem cultural - Rio de Janeiro

Fomos ao Rio de Janeiro, no domingo, 13 de abril, Ludmila e eu. Uma excursão cultural da faculdade. No roteiro, a exposição 200 anos da família Real no Brasil, no Museu Histórico Nacional, a exposição sobre Darwin e a evolução das espécies, e também o Centro Cultural Banco do Brasil. Também iríamos ao Paço Imperial, à igreja do Carmo, mas como o ônibus teve um probleminha na partida, esses foram cortados, devido ao tempo (pouco) para o que era prioridade.
A exposição sobre Charles Darwin estava no seu último dia e tinha bastante visitantes. Era a única paga, quinze reais; pagamos meia e entramos. Aí, é a nossa viagem agora. Um lugar lindo, planejado, colorido, exuberante. Retornei ao meu tempo de segundo grau, minhas aulas de biologia com o professor José Eduardo, e viajei nas imagens, nos fósseis, nos animais, nos depoimentos. Ludmila não sabia o que olhar, fotografar, admirar, tantas as novidades. Por lá tinham crianças de todas as idades. Fascinadas e loucas para tocar em tudo, pra falar de tudo, diante de um mundo maravilhoso que se abria para elas. E imaginar que ele, o Darwin, conseguiu tanta informação apenas com uma lupa, um estilete, papel e lápis. A observação e a dedicação são importantíssimas, mesmo que se tenha a mais alta tecnologia, para a ciência.
Saímos já emocionadas com tanta beleza. Caminhamos para a exposição da Família Real. Pelos corredores de entrada do Museu, as carruagens do tempo do Império. Lá dentro, a história. As imagens, os objetos, a cultura importada da Europa, o luxo, a pompa, que mesmo sobre questionamentos vários, nos trazem admiração também, por podermos conhecer a arte de 200 anos atrás. As salas se emendam umas nas outras, um labirinto de temas: República, escravos, índios, utensílios, a botica, os personagens. Fôlego para cerca de uma hora e meia de caminhada. Uma atividade aeróbica e cultural de rara oportunidade para nós que moramos no interior e não temos tanto lazer cultural.
Pausa para o almoço. Uma pequena parada no Centro, pertinho do Municipal, foi o suficiente para o calor já começar a pertubar. Fora o medo do mosquito e de outras mazelas que atingem a cidade. Mas relaxamos, pois o repelente era item de primeira necessidade antes de sairmos de Volta Redonda.

De volta ao ônibus, fomos à Casa França-Brasil, com a exposição das aquarelas de Debret, uma riqueza de cores e técnicas, retratos do Rio e de outros lugares do Brasil, que nos trouxe, mais uma vez, emoção, preenchimento e êxtase. Encontrar amigos, partilhar momentos como estes, divulgar relatos, é muito bom para a mente.

O mais emocionante para mim, vinha a seguir.
Há muito tenho vontade de conhecer o Centro Cultural do Banco do Brasil. A exposição "Os trópicos,visões a partir do centro do globo", é de uma beleza ímpar. Tudo, tudo mesmo, distribuído em 5 corredores, narra a cultura de diferentes povos na Oceania, África, Ásia e América tropical. As videoinstalações, as fotografias, os tecidos, as máscaras, os símbolos de rituais. Cera de 130 obras do Museu Etnológico de Berlim. Fora o espaço, o próprio CCBB, que é lindíssimo.
A surpresa está no hall de entrada, com a instalação "O sonho da árvore no escritório", que simplesmente é a grande atração da mostra. A árvore da vida, a árvore dos sonhos, a "máquina do mundo", crescendo em direção à luz, ao centro do universo, no alto da rotunda do hall. Uma criação de dois artistas alemães, uma terapia de relaxamento. Maravilhos ver do alto a reação dos visitantes, deitados e admirando a árvore. As crianças, os namorados, os solitários, os homens de negócios, a moça de mochila nas costas, o gringo, os meninos de rua. Um encontro, um partilhar de sonhos, uma mágica. Lindo demais! Só indo até lá para poder entender essa descrição.

regina vilarinhos.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Vontades, verdades, dificuldades

Não tenho inimigos de plantão. Tenho anjos e mentores que me amparam na solidão.
regina vilarinhos


"Compreender que há outros pontos de vista é o início da sabedoria."
(Thomas Campbell)

É tão fácil ser poeta, e tão difícil ser um homem."
(Charles Bukowski)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

João Ubaldo Ribeiro escreveu:

"Escrever, compor, pintar, atuar, nada disso é trabalho, é o
exercício lúdico, revigorante, glamouroso, e sublime de um dom
artístico. [...] O sujeito senta, sintoniza suas antenas privilegiadas
com as musas e, como quem apenas respira, ou pratica qualquer
ato destituído de esforço, produz a obra de arte. Ela já traz em si a
sua própria recompensa e o artista, esse escolhido da fortuna, não
precisa mais nada para sobreviver.
Por conseguinte o artista não pode pensar em dinheiro. Se pensa,
não passa de uma prostituta, um embusteiro que vende seu
duvidoso talento para manter-se, sustentar a família ou até,
segundo o que parece ser, no ver geral, o destino da maioria, ficar
rico zilionário."

RIBEIRO, João Ubaldo. “De olho no mercado”. Caderno 2. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 09/01/200

Do blog do Carpinejar - http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/

Iluminura do banco da praça
Fabrício Carpinejar


"Você não perguntou se eu podia, ou se devia.
Você não me diminuiu para se sentir mais forte.
Você não se escandalizou com a mentira; eu não completei a verdade.
Você não pensou no futuro, não pesou as conseqüências, não penou antes da hora.
Você não se protegeu do que desconhecia.
Não alertou que sofreria comigo, e que depois não sairia ilesa.
Você não me forçou a adivinhá-la.
Não apelou para o bom senso.
Você não me inventou, muito menos queimou o rascunho.
Você não me ameaçou com gentilezas.
Não me incriminou com seus temores, não explicou seus traumas.
Não se fez de vítima como se eu estivesse atacando.
Não, você me carregou nos ombros pela cintura. Os dois dedos dentro do meu cinto empurrando a dança.
Não me solicitou prova, testemunhas, sinais.
Não emprestou a Deus o que acontecia em segredo.
Você lembrou do sinal-da-cruz longe da igreja.
Não me julgou por antigos amores.
Não me condicionou a amar como estava acostumada.
Não esperou que eu pronunciasse o que vinha escrito em carta.
Você me olhava com os cabelos.
Você não pediu fiança, recompensa, para se entregar.
Você veio com a roupa do corpo, com o corpo ainda sem culpa.
Você me fechou em suas pernas e deixou a porta aberta do quarto.
Você me exilou no desejo para me repatriar aos poucos.
Você esqueceu as janelas chiando na cozinha.
Você foi incapaz de me constranger quando desisti de responder.
Você não me incitou a casar contigo, não me incitou a namorar.
Você não isolou minhas frases, não alegou que era uma fase.
Você me perdoou como se não existisse.
Você me fez existir para que perdurasse.
Você não me reclamou distante, não cobrou que mandasse notícias.
Você desaparecia quando desaparecia e voltava quando voltava.
Você me afirmava quando me confundia.
Você segurava a nudez para que subisse.
Você não me comparou a ninguém, muito menos aquilo que já fui.
Você não me subornou com a infância ou com o medo da morte.
Você não explorou meus segredos para usá-los.
Você não quis que falasse para preencher as falhas.
Você arredondou os defeitos pela pressa de cuidá-los.
Você foi generosa com os meus ouvidos, confiando mais no vento do que na palavra.
Você me permitiu.
Você me entendeu ao não entender.

Você não teve nada a ver comigo - finalmente eu não me repetia. "

PS:permito-me a ausência, em fase de provas e trabalhos, minha dedicação ao último ano. Tem gente que pensa que eu brinco de estudar, mas é verdade.
Carpinejar é um grande poeta e emociona. Mais de 150.000 acessos é prova de capacidade. Eu não sei se chego lá, sei que chego onde eu quero.
Abraços
regina