sexta-feira, 9 de maio de 2008

Memória da Dor - O Dia online

Li hoje no online "O DIA" e achei muito bom isso!


"9/5/2008 01:04:00 Ciência prova: beijo de mãe cura dor de filho "

Carinhos em local dolorido diminuem chegada de impulsos elétricos do sofrimento no cérebro

Pâmela Oliveira

Rio - Com quase 2 anos de idade, a pequena Lívia Arydes arrisca passos cada vez mais rápidos. Entre uma brincadeira e outra, as quedas são inevitáveis. Nessas horas, a mãe da menina, Francilene Arydes, 37 anos, já sabe o que fazer: dá beijos no local do trauma para que a criança pare de chorar. O que Francilene não sabia é que a prática tem fundamento científico. Segundo o médico Ricardo Caponero, diretor do Instituto Simbidor, os beijos e carinhos da mãe no local dolorido diminuem a chegada de impulsos elétricos da dor no cérebro.

“O beijo da mãe não é sedativo, mas alivia a dor das crianças. Isso porque tanto as sensações boas quanto as ruins chegam no cérebro através dos mesmos nervos. Ou seja, quando a criança bate o joelho e a mãe dá um beijo ou faz carinho no local, dois estímulos diferentes estão chegando da mesma região ao cérebro: primeiro o de dor e logo depois o do carinho. Por isso, a dor é aliviada com o afago”, explica o médico do Hospital Israelita Albert Einstein.

PICADA DE ABELHA

O médico diz que o mecanismo é semelhante com o de alguém picado por abelha que coloca compressa de gelo para aliviar a dor. “Ou seja, a sensação térmica aliviaria a dor porque os impulsos elétricos provocados pelo gelo chegarão ao cérebro pelo mesmo nervo pelo qual passam os estímulos da dor.”

Caponero diz também que o beijo da mãe tem ainda um efeito placebo. Ou seja, quando a mãe diz à criança que vai dar um beijo e que a dor vai passar, a criança acredita nisso e essa confiança contribui para a diminuição da dor. “Sempre que Lívia cai, começa a chorar e fala ‘dodói, dodói’. Eu digo que vou dar beijinhos para passar a dor e ela pára de chorar”, diz Francilene. “Nunca pensei que pudesse ter alguma explicação científica para isso, mas sei que funciona”, conta a comerciante.

Caponero, que participou de um workshop sobre dor realizado pelo laboratório Wyeth, em São Paulo, quarta-feira, diz que a sensação de proteção também influencia. “Quando uma criança vai fazer um exame, por exemplo, fica mais calma com a presença da mãe ou do pai porque se sente mais protegida. Se vai sozinha, começa a sentir dor antes. A dor não é apenas um fenômeno mecânico e bioquímico do nervo. Ela tem conotação psicológica e social”.

A famosa ‘dor de cotovelo’ faz o corpo sofrer

Perder uma pessoa próxima, ter uma grande decepção ou descobrir que está sendo traído pode provocar dor física. Ou seja, a famosa dor de cotovelo dói no corpo, dizem especialistas .

“O nervo não recebe estímulos elétricos de dor, mas quem sente dor não é o nervo, é o cérebro. Ou seja, o sofrimento emocional causa dor”, afirma Caponero. “Até a postura da pessoa muda.”

Supervisor da Equipe de Controla da Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Irimar de Paula Posso garante que o corpo guarda a memória da dor. “Quando uma pessoa passa muito tempo com um sapato apertado e na semana seguinte coloca o mesmo calçado, não consegue continuar calçado por meia hora.Um estudo com torturados mostrou que o corpo guarda memória da dor quando há estímulos muito fortes. Encostaram fios elétricos sem eletricidade em pessoas que foram torturadas e elas tiveram a mesma sensação de choque da tortura”.

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