Ai de mim, que não li Focault, Alan Poe e que escolho mal as minhas leituras.
Ai de mim, que não dei um grito e me permiti loucuras que me fariam felizes.
Ai de mim, que não sou descolada, que não frequentei Mauá na juventude, que não fiz acampamento e escalada.
Ai de mim, que pago imposto, que furo fila, que baixo filme.
Ai de mim, que perdi o trem, o bloco, a oportunidade.
Ai de mim, que fechei a janela e não vi a banda passar.
Ai de mim, que não sou vegana, naturista, politizada, feminista.
Ai de mim, que não faço poser de antenada.
Ai de mim, que sou cafona e mando mensagem de aniversário pela internet.
Ai de mim, que não chutei o pau da barraca e não fiz barraco.
Ai de mim, que bebo cerveja, não tenho carro e não uso black-tie.
Ai de mim, que não assisti um show do Ney Matogrosso e do Milton, ainda nos anos 80.
Ai de mim, que não fui ao teatro ver Fernanda Montenegro.
Ai de mim, que podia ir pra Europa ano passado e não fui.
Ai de mim, que não vou este ano também.
Ai de mim, que fiquei solteira, sozinha e feliz.
Ai de mim, que sou viciada em café, amor e poesia.
Ai de mim, porque escrevo tudo isso num dia de sol lindo lá fora.
regina vilarinhos - 2015
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