terça-feira, 2 de outubro de 2007

Crônica de uma mãepai




Certa ocasião, me pediram para fazer um poema sobre meu sentimento de mãe, e eu consegui escrever uma crônica. Muitas vezes, me perguntam porque não fiz um poema para Ludmila, minha filhota, e eu sempre respondi que já fiz um livro para ela, “Poemas acesos para noites apagadas”, em setembro de 2000.
Acontecem muitas coisas na rotina de uma mãepai e não sei como descrevê-las uma a uma. Sei que tive uma identidade durante muitos anos como a filha do Vilarinhos e da Inês. Quando fiquei adulta, experimentei um pouco da identidade de Regina Vilarinhos, a técnica de informática, cheguei a ser Maria Regina em muitas vezes. Mas, a partir de 1993, passei a ser a mãe da Lud. Desde o posto de saúde, passando pela creche, pelas amiguinhas do prédio, até chegar na pré-escola. No portão era sempre assim:
- Quem você é mesmo? – a tia perguntava na hora de pegá-la.
- Regina – minha resposta simples.
- Quem?!
- A mãe da Ludmila.
- Ah, tá bom. Vou buscá-la.

Daí por diante, todos os meus sentimentos de mulher, profissional, amiga, filha, tia, passavam por um único filtro. Era uma releitura de mim mesma.
Entre tantos momentos alegres juntas, um marcou o começo de tudo. Lud nasceu de cesariana, numa quinta-feira, no Hospital da CSN/Volta Redonda, e ficamos até o domingo internadas. Tudo corria tranqüilamente, ela mamava no peito e eu estava passando bem. Na noite de sábado, depois das 18 horas, eu havia tomado meu banho e caminhava pela enfermaria. Lá dentro do quarto, outras mães estavam amamentando seus bebês e escutávamos um choro forte, vindo do berçário. Mas era um choro muito forte, a plenos pulmões, e as outras mães me disseram que era a Ludmila.
Fui até lá para me certificar do que acontecia, cheguei no vidro e vi a enfermeira tentando acalmá-la no colo. Bati levemente, ela abriu a porta e perguntei admirada: “É a Lud que está chorando assim?!” Quando fiz esta pergunta, ela se calou e virou os olhos procurando minha voz. A enfermeira sorriu e disse: “Nunca vi! Tão novinha e já fazendo manha para a mãe!”
Pois assim que a peguei em meus braços, deu um suspiro fundo e me olhou com seus olhinhos penetrantes. Não preciso nem dizer que os meus se encheram de lágrimas, tamanha a felicidade de perceber que todas as teorias são verdadeiras. Os nossos filhos nos conhecem de todas as formas, com todos os sentidos.
E assim tem sido até hoje. Ludmila me conhece como ninguém e eu a ela. Nossa cumplicidade é o melhor tesouro que temos. O fato de ser pai e mãe me proporcionou uma felicidade exclusiva. Ela me chamava de mamãezinha, quando pequenininha e me chama assim ainda hoje.
O significado de seu nome já diz tudo que eu sempre quis para ela: amada por todos.



publicada no Diário do Vale em 2004 - dia das mães

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Um comentário:

  1. Oi Tia Rê!!!
    Que delicia poder ler seu poemas por aqui!
    Ja vou logo adicionando na minha pagina pra eu sempre lembrar de passear pelo seu cantinho e me deliciar com essas belas palavras!
    Obrigada pelo elogio no meu blog.
    Eu to aprendendo...
    Beijos!!!

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