segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Prisão



Regina Vilarinhos


De dentro do cárcere, a visão do universo.
Olhos que vagueiam no manto azul,
por entre muralhas, guaritas,
onde o inimigo espreita.
Vozes felizes, vozes.
Promessas. Encontros.
Almas tenras, flores pequenas,
crescem no jardim,
cercadas de algozes.
No ritmo do fuzil, marcha o rio
banhando a terra vermelha.
Nasce de novo a lua,
na cortina enfumaçada,
a ouvir o pranto das ruas.
E os corações fotografados
dos homens bombados,
em preto e branco marcados,
alinham-se nas colunas dos mascarados.
O tempo vai vagaroso.
A nova arquitetura de ruínas.
A escola sem meninas.
A comida no meio das cinzas.
De dentro do cárcere, a crença na dor.
Dor de onde não crescem milagres.
O inferno do homem
que não acredita no homem.
A não razão de negociar
a liberdade de amar.
No deserto da vida, a caravana de reis
que trazem o mel e a água,
para a amargura e a chama.
Magos, fabricam novas almas.
A paz vem com os poetas.

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