Eu não vou prometer o sol. Nem a chuva, mesmo porque ela já tem caído o suficiente. Aliás, quem sou eu para prometer alguma coisa pra alguém. Meu desejo é que tenhamos dias brancos.
Mais brancos do que folha de papel, porque mesmo sem nada escrito, ela já se comprometeu com a árvore que foi cortada ou com a mistura em que foi reciclada. Mais que o branco das duzentas saias das baianas, todas juntas, banhando as escadarias do Bonfim. Muito além do branco das camisetas marchando em passeatas na orla da praia, ou no centro das grandes cidades, pedindo paz.
Falo do branco que se vê na alma dos mexicanos que, no início da primavera, assim se vestem para renovar suas energias no alto das pirâmides deixadas por seus ancestrais pré-colombianos em quase todo o país. É a Terra sendo fecundada pelo Sol, dando início a um novo ciclo de vida. Poderíamos ir ao alto do Corcovado, de Itatiaia, no Pico da Bandeira, subir no topo do Brasil, para assistirmos ao Sol fecundando a nova Terra Brasilis.
Do branco que fazia Joana D?arc, a heroína, transformar-se em alvo fácil nas batalhas, com o objetivo de transmitir coragem e liderança ao restante do grupo. Ao contrário do Thiago Lacerda, que achou seu herói de olho roxo, ainda não encontrei o meu nesta batalha; pelo contrário, penso que perdi um.
Espalhar a alegria do branco dos Filhos de Gandhi desfilando na luz de Salvador, pelas ruas, avenidas, salões, bancos, assembléias, enfim, onde se escondem no manto escuro da corrupção aqueles que não levantam seus traseiros, acomodados nas cadeiras de burocratas.
Quero o branco quase anjo. Daqueles que acreditam que quando expiamo-nos dos nossos pecados e nos elevamos espiritualmente, somos "quase como anjos". Este branco, nenhum sabão pode dar.
Para lavar a lama desses últimos dias que a chuva fez por aí. Uma lavagem de nossas almas, nossos compromissos, nossas esperanças. Fazendo um trava línguas: o aval do mala, a lama na vala, lava a alma.
regina vilarinhos
texto escrito em 2005 - sem adaptação
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