Sobre leitura e poesia
Como falar de poesia e arte em meio a balas perdidas e achadas, chuvas, desabamentos, terrorismo e crianças assassinadas?
Como falar da leitura, de educação, quando no nordeste de nosso país livros novos, lacrados, são mandados à reciclagem, muito antes de terem sido tocados? Lembra-nos da queima de livros em Alexandria, ou na Alemanha nazista. Fico imaginando as crianças daquelas escolas, que não se aproximaram daqueles e de outros livros. A reciclagem dos livros aconteceu antes da reciclagem que eles proporcionariam aos alunos, professores e aos diretores. Doeu no peito!
Minha paixão pela leitura surgiu ainda criança, com os livros didáticos. Foi através dos textos empregados para o ensino de português que descobri quem era Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Cora Coralina, Machado, Alencar, e tantos outros. Hoje em dia, guardo livros didáticos de várias séries, que me são entregues para doação, para ainda ler estes mesmos autores e os contemporâneos, como Fabrício Carpinejar e Ana Maria Machado. E fico a viajar com tantas aventuras, desventuras, romances, e, claro, com as poesias. E em seguida compartilho meu prazer de ler.
Todos as manifestações artísticas possuem valor. E realizam uma ligação química no cérebro que daí tira as sensações, absorve-as e leva diretamente ao coração de cada um de nós. O tocar, o sentir, o ouvir, o olhar fazem parte da arte, para que ela possa realmente SER. Escondida, trancada, julgada, queimada, impedida de estabelecer essa ligação com a percepção humana, deixa de existir a arte. A arte é responsável por catalisar anseios de nossa sociedade. A arte poética nos oferece a negativa da dor, nos dá o bálsamo para a alma. A poesia emite um grito coletivo. Quem a ouve se delicia como um vinho na taça. Quem a declama, faz oração, conecta com o belo e proclama sua arte.
Para que a poesia seja elemento presente, o poeta tem que se fazer presente ao seu tempo. Somos responsáveis (se poeta me chamam) e precisamos escrever, declamar, gravar e expor nossos poemas, em todos os espaços que nos forem oferecidos. Se não nos oferecem o espaço, nós o abrimos seja através de blogs, sites colaborativos, panfletos poéticos, livros cooperativados, produção independente e tantas outras maneiras que temos de divulgar-nos. Sem buscar culpas e saudosismos em épocas passadas, temos um novo conceito de informação hoje que nos favorece a procura e a oferta de todo tipo de arte. Dessa forma, colocamos o leitor e o editor integrados do que fazemos. Construímos nosso caminho e vamos alimentado-o, uma hora ele poderá nos levar além do que imaginávamos. E não serão as críticas despreparadas que derrubarão o trabalho de quem quer que seja.
A escolha é um direito, a permanência da arte é uma consequência das escolhas, não de quem se julga dono da arte.
Regina Vilarinhos
putaqueopariu...!!! falou!!! e vamos que vamos levar esta nossa arte e outras... pro mundo! bj
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