Texo de 2006 - como é bom colocá-lo aqui.
A saudade que dele me dá
Algumas pessoas neste mundo já experimentaram fazer amor bem cedo. Quando falo bem cedo, é bem antes de 8 da manhã, antes do relógio despertar. Não é fazer amor na hora em que acorda. É fazer amor antes de dormir, ou não dormir e fazer amor até a hora de acordar. Difícil de entender? Simples demais. Você e seu amor vão para a cama, na hora de sempre ou um pouco mais tarde, sei lá. Aí, se juntam, se aquecem, se namoram, e conversam. Uma conversa muito diferente de todas as outras, longa, interessante, envolvente, cotidiana mas sedutora. Sua cabeça acha o lugar certinho junto ao ombro dele, e o braço te envolve, quente e acolhedor.
Nesse instante, ambos descobrem que os olhos do outro são de um castanho diferente, ninguém tem cor igual. A luz tem que ficar acesa. Os olhos brilhantes de todos os dias, mas nunca de uma noite igual a essa. E os assuntos vão crescendo, se multiplicando. Descobrimos que temos muito tempo para conversar, afinal de contas, ainda são 2 horas e só preciso abrir o ponto às 8 horas.
O perfume do xampu no cabelo dele te lembra o dia em que fizeram dois meses de namoro, você preparou a casa para recebê-lo e ele chegou tão cansado - "Preciso de um banho!" -, mal reparando em você. E depois, lhe deu um grande beijo dizendo que a melhor massagem do mundo vem de suas mãos.
Cada vez que a conversa vai mudando, seus lábios se aproximam tanto, se beijam tanto, a ponto de você achar que o tempo congelou, o sorriso dele é mais branco que o gelo polar. "Como, às vezes, eu me esqueço disso?" E beija, beija... Nossa, é muito tarde! Agora não tem jeito, preciso dormir, assim não consigo estar inteligente amanhã. A mão dele acha a minha. Nem procurava, mas achou. A cama fica grande, o abraço dele me deixa pequenininha.
A luz não precisa ficar acesa. Os primeiros raios de sol já penetram no quarto. Além disso, nós sabemos de cor os caminhos que vamos percorrer um no outro agora. Enquanto o mundo vai acordando, nós estamos nos amando.
É preciso dormir. E ele precisa ir. Seis e meia. Na casa ao lado, o cheiro do café e as vozes de crianças lembram que o dia raiou. A saudade dele já ficou.
regina vilarinhos